12 fevereiro, 2006

Miss (New York)… Saigon

Oito anos depois, na cidade onde nasci, da cidade onde sonho regressar.

Um dos últimos dias de 1997, temperatura secamente negativa. Taxi!, Broadway. Sala aconchegante, muitos, muitos degraus para chegar à nossa fila. Não havia mais meninos da minha idade ali. Mas eu ia ver o espectáculo mesmo assim, representado lá em baixo, num palco olhado a pique.

Não percebia aquele inglês cantado. Fixei apenas as danças, a chinezinha e o soldado grande americano. Fixei as melodias, que já me preencheram em tão tenra idade. E fixei sobretudo aquele helicóptero, real, ali mesmo, dentro de uma sala de espectáculos em Nova Iorque, o seu barulho ensurdecedor, o seu movimento mágico.

Oito anos depois Miss Saigon chegou ao Coliseu dos Recreios. A Lisboa, do outro lado do Atlântico. A uma sala maior, mas menos ampla, com um palco mais pequeno. Inevitavelmente, sem o calor da América. Sem o “No Smoking” no espaço do intervalo e consequentemente com as tossidelas especturadas tipicamente portuguesas que sempre me atormentam. Sem a mesma voz de Kim, penetrantemente agudizada. Sem o helicóptero. Sem o americano obeso ao meu lado, mas o engravatadinho que, ao fim de dez minutos de espectáculo, sai-se com “Preferia ver isto em DVD”.

Oito anos depois pude entender a história de um amor em tempo de guerra, das consequências da falta de comunicação, do conflito de culturas, do elevar dos princípios, do “I would die for you”.

Seria de esperar que, com a visão de oito anos depois, eu me sentisse mais preenchida. Mas ao atravessar a Avenida da Liberdade sei que senti um profundo vazio. Tal como o musical da Broadway “Miss Saigon” perde encanto ao sair de onde nasceu, também eu me angustiei por sentir este “American Dream” cada vez mais longínquo.

5 comentários:

mj disse...

Mesmo que tenha sabido quase a improviso barato no Coliseu dos Recreios, comparativamente ao que imagino poder ser este espectáculo na Broadway ou no West End, não deixou de me tocar.
Mas como isto é só um comment e ninguém me pediu opinião, digo-te apenas que não me angustiei como tu, por sair com a sensação de que a peça não falava de mais nada do que de Sonhos.

"As long as i keep believing i will live." Miss Saigon

(e por falar em sonhos... Vamos à Broadway?)

Chicotadas disse...

o depois é k foi!!;) grande noite! beijão!

Catarina disse...

Não vi o espectáculo mas talvez compreenda um pouco desse teu sentimento. Embora a frase que a Maria João destacou também me diga muito.
Há que acreditar e viver.
Nós estamos aqui contigo para te ajudar nessa constução (e para te tirarmos um pouco desse teu lado pessimista).
*

Anónimo disse...

"tossidelas especturadas tipicamente portugesas"...ahahahahhahahahahahahhahahahahhahaha!

Anónimo disse...

Também vi há 4 anos mas em Londres. O heli partiu tudo mas cá n tinham espaço... é assim!beijinhos