« ... Diogo lembrou-se inesperadamente de um poema de Álvaro de Campos, um dos heterónimos de Fernando Pessoa, o seu poeta de cabeceira:
Outra vez te revejo - Lisboa e Tejo e tudo,Transeunte inútil de ti e de mim,Estrangeiro aqui como em toda a parte,Casual na vida como na alma,Fantasma a errar em salas de recordações...Não se lembrava do resto do poema, sabia apenas que se chamava "Lisbon revisited" e que Pessoa o havia escrito cerca de dez anos antes (...). Mas aquele poema, em particular, parecia-lhe resumir toda a angústia, que era também a sua, entre o desejo de partir de uma pátria mesquinha e fechada sobre si mesma e um mundo aberto mas onde um português seria sempre, de alguma forma, um náufrago de Pátria. Nesse dilema, nessa incapacidade de sobreviver em paz fora de Portugal ou de se sentir vivo em Portugal, Pessoa definhara como obscuro empregado de comércio da Baixa lisboeta (...) »
Miguel Sousa Tavares,
in
Rio das Flores