03 abril, 2007

Ao acordar.

Ao acordar foi ouvindo o barulho dos carros na rua. Julgava-se habituada àquela sinfonia, ainda que civilizada. Mas depois de algum tempo a viver longe da metrópole, acostumou-se ao barulho dos pássaros.

Então, ao acordar, recordou: "Somos animais de hábitos". Arrepiou-se. Sentiu-se como que sem lugar. Não estava na casa de sempre, nem na casa de antes, nem mesmo na casa de agora. Dava gargalhadas com uma amiga numa cama elevada, daquelas com que sempre sonhou, com a secretária por baixo. O sol batia na janela, ameaçando alguma força, mas naquele momento não queria saber de horas.

"És adulta", disseram-lhe, noutra língua. Mas ela não sabia bem como lidar com isso. Ainda ontem uma amiga lhe tinha dito que era original fazer compras de supermercado juntas, quando na verdade o hábito de "antes" não era de todo o de fazê-las sozinha, e sim com um carrinho de hipermercado que levava sempre com guloseimas em cima às escondidas da Mãe.

Ao acordar quis saber para onde devia ir, e apesar da excelente sensação de poder simplesmente ficar, dar uma volta ou aparecer, sentia-se presa a qualquer coisa. Estava com vontade de agradar, sem por isso deixar de fazer as pequenas loucuras que os últimos tempos lhe proporcionaram. E de repente, contra todas as expectativas, parecia que já não sabia gerir-"se".

Tem sido assim. Ultimamente, ao acordar, sente-se a mesma de... antes.