30 setembro, 2009

Diletante muda de aposentos.


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Aguardo visitas dos meus assíduos leitores da deb, diletante!


26 setembro, 2009

Precisa-se de matéria-prima para criar um país

A crença geral anterior era de que Santana Lopes não servia, bem como Cavaco, Durão e Guterres.

Agora dizemos que Sócrates não serve. E o que vier depois de Sócrates também não servirá para nada. Por isso começo a suspeitar que o problema não está no trapalhão que foi Santana Lopes ou na farsa que é o Sócrates.

O problema está em nós. Nós como povo.

Nós como matéria prima de um país.

Porque pertenço a um país onde a ESPERTEZA é a moeda sempre valorizada, tanto ou mais do que o euro.

Um país onde ficar rico da noite para o dia é uma virtude mais apreciada do que formar uma família baseada em valores e respeito aos demais.

Pertenço a um país onde, lamentavelmente, os jornais jamais poderão ser vendidos como em outros países, isto é, pondo umas caixas nos passeios onde se paga por um só jornal

E SE TIRA UM SÓ JORNAL, DEIXANDO-SE OS DEMAIS ONDE ESTÃO.

Pertenço ao país onde as EMPRESAS PRIVADAS são fornecedoras particulares
dos seus empregados pouco honestos, que levam para casa, como se fosse correcto, folhas de papel, lápis, canetas, clips e tudo o que possa ser útil para os trabalhos de escola dos filhos... e para eles mesmos.

Pertenço a um país onde as pessoas se sentem espertas porque conseguiram comprar um descodificador falso da TV Cabo, onde se frauda a declaração de IRS para não pagar ou pagar menos impostos.

Pertenço a um país:


-Onde a falta de pontualidade é um hábito;

-Onde os directores das empresas não valorizam o capital humano.

-Onde há pouco interesse pela ecologia, onde as pessoas atiram lixo nas ruas e, depois, reclamam do governo por não limpar os esgotos.

-Onde pessoas se queixam que a luz e a água são serviços caros.

-Onde não existe a cultura pela leitura (onde os nossos jovens dizem que é 'muito chato ter que ler') e não há consciência nem memória política, histórica nem económica.

-Onde os nossos políticos trabalham dois dias por semana para aprovar projectos e leis que só servem para caçar os pobres, arreliar a classe média
e beneficiar alguns.

Pertenço a um país onde as cartas de condução e as declarações médicas podem ser 'compradas', sem se fazer qualquer exame.

-Um país onde uma pessoa de idade avançada, ou uma mulher com uma criança nos braços, ou um inválido, fica em pé no autocarro, enquanto a pessoa que está sentada
finge que dorme para não lhe dar o lugar.

-Um país no qual a prioridade de passagem é para o carro
e não para o peão.

-Um país onde fazemos muitas coisas erradas, mas estamos sempre a criticar os nossos governantes.

Quanto mais analiso os defeitos de Santana Lopes e de Sócrates, melhor me sinto como pessoa, apesar de que ainda ontem corrompi um guarda de trânsito para não ser multado.

Quanto mais digo o quanto o Cavaco é culpado, melhor sou eu como português, apesar de que ainda hoje pela manhã explorei um cliente que confiava em mim, o que me ajudou a pagar algumas dívidas.

Não. Não. Não. Já basta.

Como 'matéria prima' de um país, temos muitas coisas boas, mas falta muito para sermos os homens e as mulheres que o nosso país precisa.

Esses defeitos, essa 'CHICO-ESPERTERTICE PORTUGUESA' congénita,
essa desonestidade em pequena escala, que depois cresce e evolui até se converter em casos escandalosos na política, essa falta de qualidade humana, mais do que Santana, Guterres, Cavaco ou Sócrates, é que é real e honestamente má, porque todos eles são portugueses como nós, ELEITOS POR NÓS. Nascidos aqui, não noutra parte...

Fico triste.

Porque, ainda que Sócrates se fosse embora hoje, o próximo que o suceder terá que continuar a trabalhar com a mesma matéria prima defeituosa que, como povo, somos nós mesmos.

E não poderá fazer nada...

Não tenho nenhuma garantia de que alguém possa fazer melhor, mas enquanto alguém não sinalizar um caminho destinado a erradicar primeiro os vícios que temos como povo, ninguém servirá.

Nem serviu Santana, nem serviu Guterres, não serviu Cavaco, nem serve Sócrates e nem servirá o que vier.

Qual é a alternativa ?


Precisamos de mais um ditador, para que nos faça cumprir a lei com a força e por meio do terror ?

Aqui faz falta outra coisa. E enquanto essa 'outra coisa' não comece a surgir de baixo para cima, ou de cima para baixo, ou do centro para os lados, ou como queiram, seguiremos igualmente condenados, igualmente estancados... igualmente abusados !

É muito bom ser português. Mas quando essa portugalidade autóctone começa
a ser um empecilho às nossas possibilidades de desenvolvimento como Nação, então tudo muda...

Não esperemos acender uma vela a todos os santos, a ver se nos mandam um messias.

Nós temos que mudar. Um novo governante com os mesmos portugueses nada poderá fazer.

Está muito claro... Somos nós que temos que mudar.

Sim, creio que isto encaixa muito bem em tudo o que anda a acontecer-nos:

Desculpamos a mediocridade de programas de televisão nefastos e, francamente, somos tolerantes com o fracasso.

É a indústria da desculpa e da estupidez.

Agora, depois desta mensagem, francamente, decidi procurar o responsável, não para o castigar, mas para lhe exigir (sim, exigir) que melhore o seu comportamento e que não se faça de mouco, de desentendido.

Sim, decidi procurar o responsável e ESTOU SEGURO DE QUE O ENCONTRAREI QUANDO ME OLHAR NO ESPELHO.

AÍ ESTÁ. NÃO PRECISO PROCURÁ-LO NOUTRO LADO.


E você, o que pensa ?... MEDITE !


Eduardo Prado Coelho, in Público

17 setembro, 2009

08 setembro, 2009

Potsdamer Platz, Berlin den 6. September 2009

De regresso à praça que mais inspiração me deu na escrita. "Damals", tratava-se do ano mais intenso da minha vida, repleto de novos encontros. ("Tentando balançar", post de 2 de Janeiro de 2007).

Coisas que se assimilaram e absorveram de tal modo que hoje já são pretérito no pensamento. Sem querer, sem dever.

O tempo que passei nos opostos deste país inspirou-me a voz para falar das diferenças que um duro muro decalcou em jovens, mesmo duas décadas depois de ter caído. A inspiração que me trouxe uma viagem compensada até esta capital misteriosa, onde o flair é cinzento e se pisa História, tropeçando em locais escondidos, velhos e meio abandonados, onde pessoas de e em todas as cores vivem em Berlim.

Albânia, Sérvia e Alemanha foram os primeiros contactos na recepção do hotel (pago invisivelmente pelos nossos impostos). Cerca de 30 países representados facilmente se fizeram conhecer e partilharam histórias - ou estórias.

Desde a Estónia, com 19 anos, a vincar a paixão jornalística, até à Turquia, vinda da BBC de Londres carregada de experiência com microfones, passando por um professor primário do Chipre que, sem deixar que ninguém soubesse, era uma estrela de TV reconhecida nas ruas cipriotas, aqui a dançar connosco a qualquer batida berlinense.

A empatia de nacionalidades vivida em Leipzig, Bona, Colónia e Bruxelas revive-se aqui... instantaneamente. Portugal distancia-se, sem mal, da Espanha e da Itália para se refugiar nas chuvosas Irlanda, Holanda e Alemanha.

A Alemanha, Kathrin de nome (um dos poucos decoráveis em meros quatro dias de intensa comunicação inter-direccional) estuda afincadamente, sem pressas, para ser jornalista. É freelance para Zeit online e foi a melhor de 60 candidatos alemães pela sua estória sobre Estados não-membros que trazem estudantes com vidas difíceis para terras germânicas.

A Irlanda, de sorriso genuíno, chama-se Anna Patton, viveu em Inglaterra, aqui em Berlim e agora em Bruxelas. Talvez nos tenhamos cruzado na Place Lux sem saber. E a Holanda é vencedor masculino, com o mesmo nome do Bram de Leipzig e Leuven, tem 31 anos e uma conversa alegremente adolescente. Também freelance, contou-nos que descobriu um dia a existência do vinho do Porto. Contactou uma revista feminina, uma revista de vinhos e outra de viagens a propor o material. Depois falou com a companhia aérea a propor publicidade em troca do bilhete de avião... e assim seguiu para uma degustação no Douro.

Os protagonistas vinham do Leste Europeu, novos, candidatos ou potenciais candidatos a Estados -Membros, promovidos pela Direcção-Geral de Alargamento da Comissão Europeia - que lançou o concurso e ao qual agradecemos pela riqueza deste encontro.

Um outrora alemão de leste conta-nos, numa excursão personalidzada, como foi preso depois de ter tentado fugir para a Alemanha Ocidental. Tinha 18 anos e o plano feito nos 4 anteriores. Aparentemente, diferenças físicas no comboio foram suficientes.

Um deputado alemão do SPD encosta a política para nos falar, no Bundestag, da experiência pessoal de quem se lembra do próprio país dividido por tijolos e arame farpado. Pergunto-lhe se, enquanto cidadão alemão, foi difícil lidar com a imagem negativa que o globo espelha dos alemães, ao que responde com um olhar paciente. O tempo há-de trazer-lhes de novo o orgulho pela terra-mãe.

À descoberta de Berlim sobre os pedais de bicicletas alugadas, com olhares curiosos sobre os imponentes restos de muro, pintados agora nas cores da East-side gallery. À descoberta da gastronomia turca que aqui se instalou no pós-guerra. À descoberta de Berlim por barco, à descoberta da representação da Comissão Europeia junto às portas de exlibris e sobretudo à descoberta de histórias vindas de todos os cantos da Europa.

Prémio Europeu de Jovens Jornalistas - valeu a pena todas as horas sacrificadas em Bruxelas. Em busca de Ossis e de Wessis.