27 março, 2008

A Pátria que tanto me confunde


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Nunca há dinheiro para o essencial, mas arranjam-se sempre uns trocos para o acessório - é esse o segredo da miséria de Portugal, um país onde ainda há milhares de crianças que acordam e adormecem com fome, e onde, para regatear o leite escolar em falta, os pais têm que ir bater à porta do centro da irresponsabilidade, vulgo "sede do agrupamento". Se os pais pudessem escolher a escola pública que querem para os seus filhos, não seria necessário sequer gastar-se dinheiro com a avaliação dos professores. Mas Portugal é anti-escolha: todas as leis são feitas de modo a que a única escolha possível seja entre a resignação e a sua irmã afoita, que dá pelo nome de cunha ou esperteza saloia. Quem tem "conhecimentos", consegue mexer os papéis, quem não os tem, é melhor ficar sentado e pensar noutra coisa. Os "papéis", em Portugal, são uma entidade mágica e autónoma - como os automóveis, que em caso de acidente, se diz que "matam", pelos vistos sozinhos.
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Inês Pedrosa, in EXPRESSO

Bis, bis, bis, e por aí fora...

09 março, 2008

Homesick


"As saudades de casa não dependem do tempo que estamos longe".

Há dias em que a intensidade dos projectos no estrangeiro é tão grande, que a saudade vale a pena. Há outros, seja na primeira ou na trigésima semana, em que a saudade é tão tão forte que nos parte aos bocadinhos. Aí desejamos ter um quarto e uma cama bem pequeninos, para aconchegar a angústia. E fechamos os olhos, para não ver o cinzento do céu lá de fora.
Custa mais quando sentimos a decisão sobre nós. Ninguém me obrigou a vir para aqui, me pediu sequer. Vim porque quis - e porque pude...
Agora o lema não pode ser a lamentação ou o medo. Tento a cada manhã repetir a mim mesma: "Vamos começar por baixo, trabalhar muito e sonhar demais". Afinal, o meu grande dilema está em boa parte solucionado. Descobri uma direcção: a direcção do internacional, da Europa, do Mundo. Não sei se quero as notícias acima de tudo, mas pelo menos já sei que não quero as notícias locais ou mesmo nacionais. Também não sei se quero a comunicação para a venda a substituir a comunicação como dever público de informar. Mas é a comunicação para a venda que me compra o trabalho com maior valorização.
O que eu queria mesmo era levar a minha mente de volta para a escola, pois aí não pensava em dinheiro. Nunca pensei que se tornasse nesta obsessão - e ao mesmo tempo uma obsessão obrigatória. Além disso, nos tempos da escola nem eu nem ninguém pensava nesta crise desta forma. E já não é uma crise económica: é uma crise social, uma crise existencial elevada à escala de um País com uma linda História.
É uma frustração dificílima de descrever. Porque o que eu mais queria era caminhar para o meu trabalho sobre a calçada portuguesa, subindo e descendo as colinas da minha cidade. O que eu mais queria era ter a minha Família por perto e um céu azul por cima. Queria rever os sorrisos do meu povo, as melodias do meu Fado, a maresia do meu Tejo, os sons da minha Língua. A língua mais bonita do mundo (não preciso de conhecer as outras).
O que eu mais queria era ser valorizada no meu País, por ter feito o politicamente correcto: terminar a escola com sucesso, ter o curso que queria na Universidade e tornar-me numa licenciada com vontade de trabalhar e de evoluir.
Mas parece que muito poucos estão a reconhecer o nosso valor. Não é justo. Um país já degradado está a mal-tratar os jovens que são o seu futuro. Está a deixá-los escapar e um dia pode ser tarde para querê-los de volta. Mas não é só nisso que os Portugueses não sabem pensar a longo prazo, não é?
Somos tantos, que devíamos juntar-nos em nome do que valemos.
Equanto o comodismo nos vai vencendo, eu vou-me integrando na sistematicidade germânica. Hoje é engraçado, amanhã é cansativo, volta a ser um exemplo a seguir, de repente farta e regressa ao estatuto de orgulho.
Vou balançando constantemente aqui na Europa Central, qual emigrante que sonha voltar à terra por uns dias. Só para estar junto das raízes, olhar para o mar e comer umas sardinhas.
Saudades que têm de valer a pena.