23 setembro, 2006

Erste Augenblick (primeira impressao)

Sem estores no quarto, acorda-se a ver os predios frios e o ceu cinzento. Assustadora sensacao. (no teclado alemao nao ha "til" nem "c cedilha"). Arrepios fortes quando sobe a cabeca a consciencia de que estou a muitas milhas de casa.
É verdade. Eles andam na rua com ar serio e frio. Eles comem muita fast food, nao tem muito calor e nao usam guardanapos à mesa. Mas há quem passe os sinais vermelhos, sobretudo os jovens. Tambem comem muitos molhos, tanto que eu resolvi comer um molho à colher que estava numa tigela a julgar que era sopa. Só depois de a tigela estar vazia é que percebi que era molho para a carne.
Organizados, mas mil vezes mais burocráticos. Há uma pessoa para receber a inscricao, na mesa ao lado explicam-me os transportes, na seguinte o programa e noutra sala o pagamento - com uma Frau para eu assinar um papel e outra Frau para entregar o dinheiro.
Mas sim, há muitos estudantes aqui. Muita história. E muitos estrangeiros. Muitos edifícios bonitos e outros em obras. Faz lembrar Portugal. Mas há muitas bicicletas, porque tudo é plano, coisa que na minha Lissabon nao há.
Conheci alemaes que nesse primeiro encontro nao me olharam nos olhos, e no segundo já disseram "Hallo". De qualquer maneira cumprimentam-se com abracos ou apertos de mao e olham espantados quando cumprimento as duas portuguesas que cá há com dois beijinhos.
Os precos sao como em Lisboa. A casa é fofa, sinto-me responsavel pelo meu espaco e gosto de desfrutar dele.
Há uma ansiedade gigante por parte dos 100 Erasmus que já cá estao em ter a internet disponível rapidamente. É compreensível por que é que hoje em dia faz-se mais Erasmus. Há mais formas de comunicacao.
A Família faz falta.
E percebemos agora por que é que os outros Erasmus levam tanto tempo a dar notícias. O tempo passa devagar, mas ao mesmo tempo nao estica para tudo o que é preciso fazer.
E ao mesmo tempo ainda falta tanto para fazer, pensar e... sentir.
Boa sorte para voces todos que também por aí "andam".

15 setembro, 2006

azul, cinzento

Sinto-me como o céu se sente hoje.

Amanhã.

11 setembro, 2006

Aeroporto

Welcome - Bienvenue - Willkommen - Bem-Vindo

Eis um palco de sensações fortes. O espaço que tenho vindo a conhecer melhor, porque contactado melhor. Mais. Mais intensamente. Quase. Sentindo já tudo tão na pele.

Sobre o frio do mármore ou outras pedras que combinam com o ar condicionado e o grande volume de espaço em redor, passeiam-se carrinhos para bagagem, arrastam-se pés de quem por lá vive, os sapatos de salto alto das hospedeiras, os sapatos engraxados dos business men, os ténis dos turistas, os sapatos gastos de quem parte ou chega em busca de oportunidades, saltando continentes.

No meio de tantas diferenças, sobressai o que de tão intenso encharca aquele ar. Despedida. Suave ou intensa, seca ou chorada, breve ou indeterminada, próxima ou distante. No meio de burocráticos processos a lembrar um pescoço de um passageiro ou um piloto cortados com um X-Acto, por entre papéis e despachos e muito dinheiro, é naquele espaço de autênticas chegadas e partidas que pisam vidas, experiências, passeios, devaneios e carreiras.

Viagens.

Sinto-me como nos filmes. Correndo para o aeroporto, pouco antes do embarque, para dar o último abraço, o último beijo, o último aperto, o último olhar, o último aceno. Porque a última lágrima não está agendada.

Mas depois de ficar tantas vezes, agora quero ir. E está quase a minha vez.

01 setembro, 2006

Setembro

Eis o mês em que até os míopes vêem melhor. Cada dia que passa o Sol esconde-se um pouco mais cedo, parecendo chamar a atenção daqueles que gostam de aproveitar o tempo. Convencidos pelo espírito da rentrée a vários níveis enchemo-nos inevitavelmente de uma energia que dizem ser o verão a repor. E então, "este ano vai ser diferente".

Prepara-se mentalmente a lista dos projectos. Este ano é que me vou meter naquilo, desta vez é que vou àquele sítio, agora vou mesmo mudar este hábito.

A lenga-lenga repete-se ano após ano e hoje continuo sem saber se o facto de em Outubro já só termos dez por cento daquela energia se deve à magia que só faz fotossíntese à luz de Setembro - ou ao simples reconhecimento de que não conseguimos avançar de uma vez com todos os planos que temos em mente.

Será o Verão uma ilusão? Acaso a verdade, é uma pena. Porque no Verão ficamos invariavelmente mais felizes e a verdade é que é no Inverno que damos provas do nosso valor. Como se a auto-confiança nos ajudasse a sobreviver ao frio dos dias.

Seja como for, e embora não saiba se sinto isto por Setembro se ter aproximado a um ritmo galopante (!), a verdade é que este mês é... bonito. Não fosse ele e a depressão-de-fim-de-Verão seria insustentável. E a sorte é que ele surge progressivamente. Agora que ele chegou sinto já a minha Lisboa a renascer, a alimentar-se daquilo que lhe é próprio; substituo a angústia pelo alívio quando torno a ouvir as buzinas dos cargas-e-descargas, a ficar apertada no metro em hora de ponta e a poder usufruir finalmente de alguns serviços.

Se calhar, porém, só sinto este ar renovado dentro de mim porque ainda saio à rua com os meus pés bronzeados enfiados nas havaianas.

Enfim, Setembro é um fenómeno. Só tenho pena que este ano não possa fazer planos como os que fiz em todos os outros. Ou por outra, talvez o plano que fiz - e os que fizeram por mim - simplesmente não deixe espaço para muitos mais.