20 abril, 2006

À beira-rio de Lisboa


Como um filhote às ordens das sete colinas, a beira-rio da minha cidade delicia-me.
Delicia-me o cacilheiro cor-de-laranja que me leva ao caminho para as praias de São João e ao “Atira-te ao Rio” da Trafaria.
Delicia-me o Padrão dos Descobrimentos, a Torre de Belém e o Mosteiro dos Jerónimos a protegê-los com o olhar, impondo a quem passa a memória dos tempos áureos lusitanos.
Os pastéis de Belém são deliciosos.
A homenagem aos combatentes do Ultramar delicia o meu orgulho familiar.
São deliciosos todos os momentos de que podemos desfrutar desde o Parque das Nações até ao fim da grande marginal, passando pelos petiscos nas esplandas das Docas, pelos cafés a ver o Tejo, pelos passeios ali a pé, pelas corridas de patins em Algés e pelo luar na companhia da ponte 25 de Abril.
Porque não há como esta cidade que espelha no Tejo a rendição de quem a visita, venha de onde vier. Lisboa é luz e água.
Meditar sozinho, estudar com amigos, namorar, passear com a Família, brincar na relva… ou simplesmente olhar e respirar. É essa vontade que se sente à beira-rio de Lisboa.

19 abril, 2006

Num instante...


… perdeu-se uma vida. Jovem.
… perdeu-se um filho.
… um corpo desfez-se.
… começou um trauma.
… algo numa Família perdeu sentido.
… outros números foram ignorados.
… os media esbracejaram.
… não houve tempo para despedidas.
… houve muitos arrependimentos.
… houve pena.
… lembrei-me do Eduardo.
… parou-se para pensar.
… o tempo parou.
… o alheio aconteceu connosco.
… a coincidência assustou.
… a estabilidade fez-se estilhaço.
… a confiança traiu.
… um fenómeno nacional perdeu o seu sentido para, quiçá, ganhar outro.
… soltaram-se os clichés.
… a fama pareceu ensinar.
… o adulto não soube explicar.
… a Televisão (i) exagerou.
… explorou-se a dor.
… cresceu a apatia.
… cresceram as romarias.
… o amigo sofreu.
… dois irmãos angustiaram-se.
… questionou-se o habitual.


Num instante o choque alastrou e mais uma vez a dor viu-se efémera para uns e eterna para outros.

A revolta face à exploração mediática da morte de um jovem, apenas porque era (!) um ídolo para muitos adolescentes, faz apetecer o off da televisão, como se não interessasse. Começamos a deixar de ter espaço para fazer o nosso juízo de valor, como se não nos deixassem sentir mortes destas sem nos emocionarmos com as imagens do jovem ao som de músicas que apelam ao amor pela vida, sem passarmos SMS e outras mensagens de condolências, sem seguirmos as cerimónias fúnebres pelo pequeno ecrã.

Não sei nem cabe a mim saber o que é correcto dizer ou pensar acerca de um fenómeno destes.

Resta-me respeitar aqueles para quem, num instante, a vida não seguiu em frente.

16 abril, 2006

Não penses, faz



Cada dia que vivo, anseio pelo próximo, não pela sede de viver, mas pela vontade de ver já passados os desafios que me surgem. Não obstante sinto a cada dia mais um pouco dessa sede, por a cada dia ouvir e ver vivências que julgam obrigar-me a saborear cada instante respirável. “A vida é curta”, “Carpe Diem”, “Sê optimista” não me convencem, mesmo que não saiba justificá-lo. Pois o que tem vindo a conquistar esta vontade de reagir à minha apatia tem sido algo que não sei definir, creio que por ser contínuo. E isso orgulha-me. Fui ensinando a mim mesma, em quase todas as oportunidades que tive, a forma de vivê-las com menos receios, com mais vontade e descontracção.

Hoje deparo com a inevitabilidade de parte do meu futuro e, simultaneamente, com a terrível responsabilidade de ter uma decisão nas mãos. Neste interior que, tão bem tantos sabem, canta fados cinzentinhos, chocam as células habituadas ao conformismo pessimista com aquelas que, mesmo fortes, não têm força suficiente. E nestes momentos de solidão caseira vence-me a frustração de querer estar lá fora, de casa, da cidade, do país, de mim mesma, e não poder, porque não faço, porque não quero realmente. Querer é poder, esse sim é um cliché no qual muitas vezes acredito. Pela primeira vez sorrio por sentir verdadeiramente que quero um pouco mais, porque tive a modéstia de partir sempre de um ponto em que não seria capaz de nada. Então era como se não quisesse.

E tudo graças ao que me rodeia. Às pessoas, aos amigos, aos inimigos, às imagens, às notícias, à minha imaginação ambiciosa. Tudo graças aos que me aturaram, dando-me a certeza de que, aproximada de alguém parecida comigo, eu saturaria facilmente. Não deve ser fácil conviver com quem está constantemente a dizer que não, quando na maioria dessas vezes poderia dizer que sim. Quem baixa a cabeça quando tem motivos para sorrir.

Não posso negar que tenho as minhas razões para ter inseguranças, pelo menos desde que, há cerca de três anos, saí da protecção colegial para ouvir os comentários gelados sobre os futuros com “n” adjectivos. Tantas razões quantas as que podem designar para me acusar de egoísmo e egocentrismo. E mesmo assim eu não cedo, por a escrita ser ainda o meu poço preferido de fraquezas.

Ora, admito, já estas palavrinhas parecem carregar outro alento para dentro desse meu poço profundo e misterioso. Quem sabe eu não esteja mesmo a ganhar forças?

04 abril, 2006

Der Frühling



Não há melhor do que estes meses em que tudo é harmonioso.