24 maio, 2006

Flor-de-ir-embora


Flor de ir embora
é uma flor que se alimenta
do que a gente chora
Rompe a terra, decidida,
flor do meu desejo
de correr o mundo afora
Flor de sentimento
amadurecendo, aos poucos,
a minha partida
Quando a flor abrir inteira
muda a minha vida
Esperei o tempo certo
E lá vou eu, e lá vou eu
flor de ir embora, eu vou
E agora esse mundo é meu.

Maria Bethania

Obrigada M.J. :)

23 maio, 2006

Too love


Adoro o som da rega dos jardins.
Adoro a minha cama.
Adoro folhear os livros.
Adoro o cheiro do fósforo quando se apaga.
Adoro pensar que quero.
Adoro o silêncio.
Adoro andar a pé.
Adoro músicas melancólicas.
Adoro a praia vazia.
Adoro Lisboa.
Adoro a urbe impessoal.
Adoro sentar-me à secretária.
Adoro observar.
Adoro lembrar a minha infância.
Adoro chocolate.
Adoro o Dartacão.
Adoro dizer "eu vou".
Adoro comer petiscos.
Adoro os jogos de Portugal.
Adoro tirar as meias a meio da noite.
Adoro escrever à mão.
Adoro olhares que falam.
Adoro Nova Iorque.
Adoro a minha Casa, a minha Família.
Adoro o meu coelho, a minha caturra.
Adoro o banho matinal.
Adoro os sábados de manhã com sol.

19 maio, 2006

Zukunft


Terrível a sensação da incógnita,
Terrível o medo do imprevisto,
Terrível não poder prever,
Terrível não poder fugir disto.

Aliviante a força das relações,
Saudável a compreensão,
Propício o momento,
Ponderada a decisão.

Saber que é o melhor e não poder prová-lo já.
Eis o problema do futuro.

16 maio, 2006

Cinzento abafado

Um tic tac que baloiça para um lado e para o outro, hipnotizando quem por ele se deixa absorver. É o paradoxo da minha alma, neste tempo de flores, decisões, calor e tensão. Porque me apetece muito sair e sentir o bafo quente tocar-me a pele e porque não saio, digo eu que não posso, tenho coisas para fazer. Em vez de fazê-las fico a pensar em mim, não responsável mas egocêntrica, e tanto ao ponto de não ter visão para o que me rodeia. Penso em mim e decido que não vou planear-me dessa forma, que não me é saudável, que devo pôr o pé à frente em vez de andar como há 20 anos neste pé-ante-pé-recuado. Em todo o caso acabei de não sair por achar que não podia, para no fim concluir que o que mais quero é contrariar-me nesse terrível defeito que me prende. E a ele me prendo continuamente, e nele penso, para novamente amanhã querer decidir e fazer e levar avante uma ideia, ínfima que seja, e ter quase a certeza de que não o farei, por alguma razão que o tempo que digo não ter não me deixa apurar. Confundo-me comigo mesma, oiço o fado do campo pequeno e sorrio pelas coisas boas que posso saborear, para no instante seguinte as pálpebras fecharem e abrirem num movimento melancolicamente lento. Confundo-me na minha própria imagem, há minutos tão serena e feliz, agora tão apaticamente triste. O meu coelho rói-me as calças como quem me chama à terra que ele pisa ali em baixo, "taninha, reage". E eu não reajo, por saber que estes dias não têm solução. Então imagino-me sob o ar gélido da neve e das ausências que somente imagino, e cai por terra toda a força de vontade que tenho acreditado que está em mim, guardada para explodir quando for preciso. Não sou mais expectante, não sou mais pensante sequer, pelo medo de dias como este que hei-de ter. E o bafo lá fora sufoca-me por não saber que atitude devo tomar.

13 maio, 2006

Confirma-se

Dear Mr./Ms. Miguel Marcal Correia Deyrieux Centeno ,

I am pleased to inform you that you have been accepted to the Charles University in Prague, Faculty of Medicine in Pilsen as a full time student of the 1st year of General Medicine Course in the Academic year 2006/2007.

O meu fofinho vai ser Médico como tanto sonhou, depois de recalcar esse sonho em vão durante os últimos três anos.

Nada mais genuíno do que saber da notícia antes dele e sentir, sozinha em frente ao computador, o coração a pulsar com força e uma vontade enorme de saltar, rir e chorar. Nada mais delicioso do que correr atrás dele e dizer-lhe que ele conseguiu, que ele está em Medicina como tanto merece há tanto tempo. Nada mais gratificante do que ver aquele sorriso lindo dele a rasgar-se até às orelhas e vê-lo saltar e gritar como um parvinho no meio da rua.

Não importa pensar no que é que isso implica. Importa sentir esta felicidade pela felicidade alheia.

Chamaram-lhe amor incondicional.

Obrigada a todos os que sempre perguntaram e se preocuparam.

Agora é aproveitar.

04 maio, 2006

Um ano.


Sem palavras, com amor, sem remorso, com perdão, sem falácia, com cumplicidade, sem cinza, com força, sem presentes, com olhares, sem destino, com sorte, sem aliança, com passeios, sem novela, com enredo, sem desconfiança, com orgulho, sem vazio, com verdade, sem ausência, com história, sem transtorno, com amizade, sem favores, com compreensão, sem prisão, com lágrimas, sem lágrimas.

Sem certezas, com esperança, com memória, com saudade.