27 novembro, 2007

"Sou um Homem rico"

Tudo, tudo, tudo interiorizado. Uma marca a não esquecer.
O semblante carregado não impediu o manifesto bonito da união, a vontade de estar presente. As lágrimas, adiei-as para tentar prestar o apoio que se presta em alturas como esta, que nunca tinha vivido. São tão bonitos, os laços de sangue verdadeiros.
E a Amizade ali entregue, em abraços apertados e palavras de força, fazia esquecer a escuridão fria e as cores negras dos casacos.
Fala-se de tudo, mas não há conversa de ocasião. Apenas ajudamos a descarregar o peso que se abate sobre nós.
A amizade encontra ali contornos que não se vêem tão nítidos em Natais, nem em aniversários, nem em telefonemas e encontros esporádicos. Triste ironia, mas ao mesmo tempo curiosa e gratificante. É sentir que a idade fortifica tudo aquilo que vi com agrado.
As lágrimas acabaram por não resistir a saltar. Bem-vindas.

O mais bonito foi ver a união de três Irmãos, sobrevivente a todas as adversidades que não conheci, cujas histórias me chegaram turvas. Como se sentisse que não lhes pertencia; que aquela juventude, fora uma Guerra que todos os dias conheço um pouco mais por me mostrar de Quem vem a minha educação, aquela juventude não pertenceu ao meu mundo, e por isso fica para eles os três.
Mesmo da tua História ficou tanto por contar, que anseio ler as linhas que tão dedicadamente escreveste para um dia conhecermos.

Não contávamos com isto, mas talvez tu o tivesses sentido. Desculpa se não o percebemos. Mas creio que não faz mal, pois vai estar sempre presente em nós o teu sorriso, as tuas duras críticas em tom de graça, os teus grandes olhos azuis, a tua memória, a teu cumprimento "minhas queridinhas" com a pronúncia do norte que tanto orgulho te dava.


Deste conta da beleza? As raízes do Porto, o "filho mais velho" de Torres Vedras, "o do meio" de Lisboa e "meu mais novo" do Brasil, ali juntos para ti. Temos de ver a beleza dos momentos tristes. Se não deste conta, eu digo-te: foi bonito, bonito, bonito, vê-los caminhar abraçados ao som dos passarinhos, num dia lindo de sol de Inverno. Foi lindo senti-los relembrarem-te, com tanto no seu interior que desconhecemos, a manifestarem tão livremente o orgulho do Pai que foste.
Agora... agora, o teu "Anjo da Guarda" não te perdeu. Nós é que ganhámos outro Anjo.
Saudades de todos aqueles que te fizeram sentir rico.


[Este é um texto só meu e dos que lá estavam. Está aqui porque precisava de gritá-lo.]

20 novembro, 2007

A sociedade vista pela praia

Escrito há dois anos, na altura do fim-do ano... hoje reli-o no antigo blog. Achei graça re-publicar o que escrevi na altura:

O silêncio que caracteriza o cair da madrugada na minha casa urbana, a um domingo, torna-me muito vulnerável a pensamentos nostálgicos. Desta vez tive um empurrão do pequeno ecrã, sintonizado no canal GNT.Tenho saudades do Rio de Janeiro.

Recordo as particularidades da minha visita e constato hoje que uma turista de 15 anos nunca poderia absorver a filosofia de vida de quem vive numa "cidade com uma floresta dentro dela e a água banhando ela".

Nesta noite de domingo consegui amadurecer o meu olhar. A procura obsessiva pela "estória" e certamente o conhecimento mais do que geográfico do terreno desta cidade tão peculiar permitiram ao jornalista responsável criar uma reportagem que eu arriscaria caracterizar como totalmente verosímil, e conquistadora por isso mesmo.

É perfeitamente legítima a sinédoque de tomar a praia como um espelho fidelíssimo do espírito carioca e em parte até brasileiro. O recorte da costa do Rio de Janeiro traduz de imediato a discrepância entre o muito pobre e o muito rico, mas simultaneamente a defesa pela igualdade entre todo o ser humano. Quer da favela que escorrega pelo morro, quer da mansão que nele encaixa com perfeição e segurança, é possível avistar a praia, admitindo com esse olhar que ela pertence a todos na mesma proporção.

Em todo o caso, e tal como na vida, a diferença de facto existe. A comunidade gay dirige-se para uma praia específica, onde os sorrisos parecem ser os mais sinceros. Um rapaz conta energicamente a sua história de vida. Ainda um "teen", tem já hoje o familiar peito de silicone, o cabelo comprido, o jeito feminino... mas a tristeza conformada de quem não tem dinheiro para mudar de sexo. Ao seu lado, a mãe declara com veemência: "Se não for eu a apoiar ele, ninguém mais vai apoiar". Ambos sorriem.

Também existem praias pequenas, escondidas, elitistas e sossegadas. Numa delas medita aquela jovem senhora que procura o seu interior enquanto contempla o mar com um olhar lacrimejado. A euforia do brasileiro não impede de todo a existência de momentos de solidão e de perda de identidade. E no entanto, mesmo na praia ao lado, onde a concentração humana quase provoca a asfixia e a surdez, uma mulher elege a praia como o único tesouro que vale por si mesmo, já que a sua vida está resignada ao infortúnio dos seus limites: "Para quem sabe que não vai conseguir ter nada nunca, vale mais deixar de sonhar, né?", lamenta. [Mas lamenta com um sorriso, como que dizendo em silêncio "ter vida vale mais que tudo isso". Além disso, "a gente já 'tá sendo filmado aqui, já tem alguma coisa de diferente p'ra alegrar nosso dia". Sim, o pobre brasileiro sabe ao que dar valor, e consegue, apesar de todos os contratempos desta contemporaneidade, ser optimista.]

Assim vai o Homem decalcando as suas diferenças sobre as baías que a erosão foi moldando. Mesmo onde o areal parece ser partilhado por todos é possível que a consciência de cada um determine que num "posto" estejam as "patricinhas" e os "mauricinhos" e que num outro fique "a galera que fuma maconha". Graças ao encontro de classes no sítio certo, a verdade é que um casal, visivelmente feliz, contava que o seu casamento teria começado num pedaço daquela areia. Casados há 20 anos, podem dizê-lo: "Estamos na praia até hoje".

Na praia do Rio de Janeiro a democracia é omnipresente. Ainda que a cidade mantenha uma íntima relação com a criminalidade, diz o democrata que naquelas praias "a única violência é a pequenez do biquini". Turistas francesas são mal vistas pela prática do "topless", porque naquela parte do hemisfério terrestre só o "bum-bum" é que se mostra.

A opinião é unânime entre a multidão que se veste de branco na última noite do ano. "A areia é a democracia. Aqui o ser humano está reduzido a um calção e a um chinelo". Boas entradas, cidade maravilhosa. Saudades.

18 novembro, 2007

E eis que...

...vou mesmo!
Que medo!

14 novembro, 2007

Não penso mais negativo

Porque desde que voltei quero ir e experimentar, quero fugir e re-provar, quero ir para voltar.
O respirar absorve-me na vontade constante de procurar, ponderar, enviar. Fazer (de) novo sem me assustar. É ilusão, em grande parte. Mas tem outro sabor, de tão tarde que aprendi a valorizá-la...
Uma coisa se manteve: o futuro pesa-me mais que o presente. Talvez não vá fazendo o que devia ou poderia, não fosse isso quiçá reanimar-me o gosto pelo sonho perdido. Mas deixei de o querer e, mais importante que isso, passei a valorizar o que sinto. Se não quero, não faço. Desde que haja querer para fazer qualquer outra coisa. E. Se. Há!
Não deixa de ser angustiante. Eu não quero deixar nada nem ninguém, nem deixar margem para que o questionem. Seria bom encará-lo pela positiva. Deixei-me vaguear e sonhar à vontade, depois de tantos anos presa à terra.
Até julgo, ingénua, ter sabido lidar com as saudades, não sei ainda bem como.
E é por isso que quero saltar lá para cima, vestir cachecóis outra vez, pedalar, não entender, passar vergonhas. Ai, o prazer de passar aquelas horas sozinha...
Tive tempo para me analisar, para tapar os medos, perceber que nada é o fim do mundo. O que importa é ter saúde e vontade de viver, ambicionar e acreditar!
Quem diria?
Di-lo-ei eu, quando me deixarem ultrapassar, ultrapassar, ultrapassar, até lá chegar outra vez, mas dessa vez sem pânico (!) nem passos-atrás.
Quero, quero, quero muito. E espero não me cansar de procurar e de tentar até conseguir. E bem depressa, que não há tempo a perder.