13 julho, 2008

Terra à vista

« ... Diogo lembrou-se inesperadamente de um poema de Álvaro de Campos, um dos heterónimos de Fernando Pessoa, o seu poeta de cabeceira:

Outra vez te revejo - Lisboa e Tejo e tudo,
Transeunte inútil de ti e de mim,
Estrangeiro aqui como em toda a parte,
Casual na vida como na alma,
Fantasma a errar em salas de recordações...

Não se lembrava do resto do poema, sabia apenas que se chamava "Lisbon revisited" e que Pessoa o havia escrito cerca de dez anos antes (...). Mas aquele poema, em particular, parecia-lhe resumir toda a angústia, que era também a sua, entre o desejo de partir de uma pátria mesquinha e fechada sobre si mesma e um mundo aberto mas onde um português seria sempre, de alguma forma, um náufrago de Pátria. Nesse dilema, nessa incapacidade de sobreviver em paz fora de Portugal ou de se sentir vivo em Portugal, Pessoa definhara como obscuro empregado de comércio da Baixa lisboeta (...) »

Miguel Sousa Tavares,
in Rio das Flores

2 comentários:

Anónimo disse...

É incrível como as palavras de Fernando Pessoa caem sempre tão bem. Lembro-me perfeitamente das nossas conversas sobre Lisboa, ainda eu estava longe dela, também. Voltámos...e tu "desapareceste", outra vez...
Lisboa descobre-se a cada passo e fica sempre qualquer coisa por desvendar... Dela...e só dela...a luz inesquecível que aquece o coração...
Essa Lisboa será sempre minha, tua e de todos...sempre que, num regresso a casa, olharmos pela janela do avião e reconhecermos a sua luz, tão própria e irrepetível! ;)

Gostei, miúda!
Tenho saudades tuas...

ARN disse...

Arrepiante... eu sou comerciante.