26 fevereiro, 2006

Asas



Habituei-me a ver os melros pousar neste jardim, verde, frio e despenteado pela chuva. Pousam pela direita ou pela esquerda e logo levantam voo quando pressentem que os observo. Saudosa da visão deste pequeno pedaço de vida, levanto a cabeça e procuro-os nos ramos dos pinheiros. Camuflados entre as pinhas, torna-se vão encontrá-los. Então suspiro e arrasto o olhar para o contraste entre este verde que me delicia e o céu azul de um fim de tarde de Inverno solario. E de repente vejo três, quatro, cinco corvos a voar para o outro lado do lago, numa dança embalada pelo vento que oiço gritar lá fora. Bem alto os corvos sobrevoam aquele pedaço de água sobre o qual dançam também os patos que já são uma companhia. De vez em quando visitam a água química que temos aqui, a poucos metros do habitat que construíram ali. Gosto muito daqueles patinhos. Fazem-me lembrar o pintainho bem pequenino que trouxemos para Lisboa uma vez, no tempo do Monte. Triste bichinho, atirado para uma cozinha de um prédio alto bem no centro de uma cidade. Mas ele acomodou-se. Exactamente como a caturra linda que tenho em casa, perfeitamente adaptada a este ritmo humano e urbano de quem sai e chega a casa a horas certas. Cumprimenta-nos sempre com um assobio e pendura-se com a cabecinha para baixo, ao nível da porta da gaiola, a pedir festinhas a quem se aproxima dela. Quando calha passarmos mais tempo fora de casa do que é habitual, ela rejeita as festinhas e pica-nos os dedos, muito zangada. Enquanto ela espera por nós lá do outro lado do rio, vou saboreando as asas que batem em direcção ao outro lado do lago. Um corvo esconde-se atrás de um arbusto, cá em baixo, bem pertinho. Livre para levantar voo quando quiser. Já o melro, vaidoso, prefere o Verão para dar o ar da sua graça, saltitando ao longo do jardim a passear o seu lindo bico amarelo. E todos os dias, quando aqui acordo, é o seu cantar que me lembra que o raiar de um novo dia é a maior razão para ser feliz.

Estes passarinhos são muito meus amigos.

4 comentários:

Rita disse...

É lindo encontrar motivos para acordar feliz, nas coisas simples que nos rodeiam.
Vamos fazer amigos entre os animais.,amigos destes não são demais na vida... (acho que era assim)
Beijinhos

Caramela disse...

De cada vez que vejo um novo nascer do sol alegro me. O dia anterior pode ter corrido da pior maneira, mas sei que neste novo dia tenho capacidades para mudar tudo e para ser feliz. O nascer do sol e o piar dos passaros iluminam o novo dia e dão-lhe uma enorme alegria, alegria de viver. Porque é isso que move os pássaros, a alefria de viver mais um dia para poderem ver o nascer do sol, um momento maravilhoso do dia!

Anónimo disse...

Ola demonio!
So apetece mandar-te acordar todos os dias nesse teu refugio onde e tao facil ouvir os passaros e sentir a vida no primeiro suspirar do dia. Ou entao dizer-te que compres um aparelho para, de manhazinha - ou ao fim da tarde, ja que este semestre fomos convertidas em estudantes do ensino recorrente! - poderes tambem ouvir esse canto, entre o barulho dos apitos, dos carros, dos vendedores de lotaria, da cidade, para teres essa forca e vontade de levantar, vestir e sair...de viver!

beijos

p.s. desculpa a falta de acentos. nao estou em italia, como certas pessoas, mas ando a fingir...lol.
tou a brincar..e este teclado do meu tio, estilo americano...e nao e preciso dizer mais nada!beijo outra vez...

ARN disse...

Oh miuda... na minha terrinha, cm sabes, tenho um jardim onde todos os dias e a todas as horas os pássaros cantam e descansam nos ramos! Só tu para me fazeres lembrar a riqueza desses momentos!Bj