18 outubro, 2005

Sorriso procura-se


Nunca mais o vi.

Não sei porque me arrasto desta forma há tanto tempo. Há mais de um mês que os meus pés transbordam da cama. Não quero ouvir, não quero ouvir repetir, não quero ver o que via há tão pouco tempo. Desnecessito dessa euforia, desse rescaldo de férias para os próprios amigos. Nem sequer me apetece perguntar. Não me apetece ouvir, contar, ouvir, contar, criticar, rir, conversar. Nem dialogar, nem conviver. Não quero um café relaxante, muito menos uma música estridente a tirar-me a noite de sono tranquilo. Na minha cama, nos meus lençóis, na minha almofada só minha.

Mas nem isso me deixam fazer. Tenho de me levantar todos os dias quando ainda converso com a minha almofada. (Até isso eu deixo a meio). Arrasto-me novamente para essa regra, esse curso de regras, este percurso que não me ensina as regras para aguentá-lo e sobretudo esta regra tão minha de não conseguir, de não acreditar, de não saber fazer mais. De não sorrir.

Desmotivo. Com tudo, com toda a gente, comigo mesma. Não me apetece ouvir-me, então calo-me. Não me apetece sequer ouvir o ecoar dos meus pensamentos dentro de mim, então olho para baixo e choro. Como se o soluçar abafasse o que penso. Parece que eu já nem penso em nada, que deixei de raciocinar. Todas as minhas ideias ficam pela metade, ou são turvas demais para que alguém as entenda. Libertar esta minha ampla frustração resulta sempre num desabafo pobre, durante uma conversa inoportuna. Então as ideias apodrecem e no dia seguinte já não me lembro de onde vieram.

Corro e salto desenfreada. Eu esforço-me, sei que me esforço. É incrível como nem a desmotivação me deixa ser desorganizada, tal é o pânico de me perder de vez. Talvez deva ver isso como uma contra-atitude, como a vontade de transpirar todas os pensamentos apodrecidos. Cinzentos e feitos cinza. Mas parece que nem isso resulta, porque logo depois esfrego a pele, deixo-me encharcar e fecho os olhos em busca de uma nova ideia, mais colorida e... possível. A desmotivação impede-me. Baixo novamente a cabeça e as lágrimas misturam-se com a água. Vivo na ilusão de as disfarçar, mas o doce é o oposto do salgado...

Não quero falar sobre isto. Outrora senti saudade daquela conversa confidencial, mas hoje, agora, não me serviria de nada. Deixei de saber falar espontaneamente. Os pensamentos correm mas a neblina desta alma confusa não os deixa passar para a voz, esta voz trémula e insegura. Esta alma fria que aproveita o vento invernoso para se esconder ainda mais, sob o casaco e o guarda-chuva. Esta alma que corre na esperança de avivar o ânimo quando sente o aroma das castanhas assadas... e que abranda, frustrada, quando esse empurrão se desvanece, assim, num segundo. Sem saber porquê.

E no entanto falo aqui. Falo aqui à mercê de todos os olhos do mundo que entendam este dialecto - responsável por tantas das minhas dúvidas. Não quero que vejam esta fraqueza tão exposta, mas quero lá saber, este clic é a hipótese mais próxima que tenho de me obrigar a levar alguma coisa até ao fim. Se quem eu não queria que lesse, ler, paciência. Talvez essa libertação sirva de bofetada para esta birra cinzenta, muda e sem motivo. Digo a todos que sim, estou "assim", ou melhor não estou, não contem comigo na vossa animação. Não sei acreditar, não encontro essa estima pessoal nem o estímulo para esse encontro. Não sei como aprender, não apreendo nada do que me ensinam, não consigo mais dizer o que penso e parece que já não há palavras que me convençam de que presto. Não consigo responder ao "que tens?", pois não tenho nada. Pelo contrário, falta-me. Falta-me vivacidade, clareza, ego, vontade, coragem, talento, alegria.

Falta-me um sorriso. Que não sei onde está nem vou procurar. Não me apetece.

9 comentários:

Anónimo disse...

Olá demónio!
Acho que em momentos como este todas as palavras são vãs e nunca reflectem verdadeiramente o que nos vai na alma e a vontade (num misto de impotência) que sentimos de ajudar.
Não sei o que te dizer...não tenho efectivamente palavras! Sinto-me sem ar de te sentir assim.
Quero que saibas que, sempre que te apetecer (se isso acontecer) tens aqui, na minha pessoa, uma amigalhaça a quem contar tudo, com quem discutir ou desabafar, a quem abraçar (se quiseres)...resumindo, em quem confiar!Espero que sempre que precises venhas ter comigo...até por um golinho de àguita...esse belo e delicioso líquido!!!
Beijinhos enormes*adoro-te miúda*

Anónimo disse...

É nestes momentos que os pensamentos não rolam , que as palavras não saem, e que se por algum motivo até se querem fazer ouvir, elas são tão inuteis que não resolvem nada..
Já temos falado e tu sabs bem..
É uma fase.. que por muito vegetal que seja nos tras de volta a sintonia da qual já tinha saudades.. Não aparece da melhor forma mas mantem-nos juntas..
Always u need.. i'm right here ;)
@ Gosto de ti *
Vamos contrariar esta monotonia?! Sim, um dia.. ;)

Anónimo disse...

...Quem me dera encontrar por aí o teu sorriso perdido... Tenho a certeza que não seria difícil.. deve brilhar como o sol, ter as cores do arco-iris, a força do vento, a ternura de uma criança e o conforto de um abraço...
...Mas sei que ele não anda perdido... e também sei que não me compete a mim procurá-lo... Sei bem que o trazes perdido em ti... escondido... abafado... quem sabe... cansado!... Sei ainda que o vais revitalizar... dar-lhe ainda mais brilho e voar...
...Eu acredito em ti!...
...Adoro-te, debbizinha!... Xuac

ARN disse...

Deb , sem momentos como estes na nossa vida, desses em que nada parece fazer sentido, em que cada caminho não leva a lado nenhum, em que cada palavra é oca e chata...sem esses momentos em que baixamos a cabeça não existissem não teria havido poetas, Homens de valor, que sofrem e agonizam e depois lutam e vencem. Todos os heróis sabem dar a volta à história. Também eu acredito em ti.Sei que vais ser feliz, porque és genial em muitos sentidos. Porque és poeta. Os momentos como esse que passas servem sempre para grandes reflexões, por isso não penses que estás a perder dias, mas estás a ganhar maturidade.Vive, não te "deixes morrer lentamente", não te esqueças de ser feliz!

ARN disse...

ah miuda, sou eu, a Chefe Raquel. Bjo* grande, adoro-te

Anónimo disse...

bem n me vou repetir pois tds os comentários dizem um pouco do que penso!
De qualquer modo, n kero q penses que fiquei indiferente a este pois..sabes bem q tal era impossivel.
A verdade é q acompanhei a tua tristeza,tentei perceber a sua razao, culpei-me em parte..mas nunca encontrei respostas.
Talvez, por isso, tenha ido procurar-te. Fui mais uma que te perguntou o que se passava. Peço imensas desculpas por isso. Mas a preocupação era tal que precisava que soubesses que estava lá.
Acima de tudo, senti-me omnipotente. Afinal o meu discurso de sempre do optimismo não adiantava de nada, pois não passavam de meras palavras. Queria fazer qualquer coisa..n sabia bem o quê..e assim fui tentando ajudar-te a esboçar um sorriso, mas para meu desespero, sem efeito.
Hj qd xeguei à faculdade vi logo que algo estava diferente..à tua volta encontrava-se uma aura especial.dirigiste-me logo a palavra como era costume.contaste as novidades entusiasmada.
Senti-me feliz!Se calhar no momento em que tinhas deixado de procurá-lo, ele encontrou-te!Sim, minha pekenita..hj o sorriso encontrou-te e deixou-te ainda mais esplendorosa ;)
Love you :D

E vivam os scones!!!

mj disse...

se ao menos te soubesses tao especial como eu te sei...

ate breve.

Catarina disse...

Ao ler o teu texto fico triste mas contente. Triste por te ver assim, mas contente por procurares algo melhor (apesar de te sentires apática). Quero-te ver a sorrir. O sorriso. Mas ninguém disse que a vida é fácil. Há que batalhar, mesmo quando pensamos que a batalha chegou ao fim. Há sempre algo. A esperança. O sorriso. A esperança de te ver de novo a sorrir...como te conheci. Aquele sorriso só teu. Não é por não o teres que o esqueço. Pois isso seria deixar de lutar. Adoro-te*

Caramela disse...

Todos perdemos o nosso sorriso em qualquer momento da nossa vida. Podemos procurá-lo, mas ele só regressa quando não o procuramos. Não existem razões, lógica por o sorriso a certa altura desaparecer... Apenas acontece... Para algumas pessoas demora mais tempo a reaparecer, para outras menos...
Sem sorriso, sem motivos, a cabeça inicia um turbilhão.. Ficamos confusas, o pensamento, as ideias existem, mas são demasiado turvas para poderem ser pronunciadas... Por isso calamo-nos.
Mas o teu sorriso volta. E esqueces te que um dia andaste à procura de um sorriso. Não o podes procurar. Tu só tens um sorriso (lindo, magnifico), não podes procurar por outro...
Quem te vê sem o teu sorriso estranha, pergunta "o que tens?", sente-se impotente... As perguntas, a companhia, a rotina, irritam nestas alturas...
Quem te rodeia pode não ter noção de como te ajudar a procurar esse sorriso perdido, mas está lá... Sempre esteve, e estará.
O nosso contacto tem sido muito espaçado, escrevo te agora apenas para dizer que espero que o sorriso já te tenha encontrado, que sejas luz outra vez, como sempre foste...Há sempre momentos assim, mas a esperança nunca morre, e os sorrisos vão e vêm, a vida é feita disso mesmo...