Já aconteceu há vários dias e a magia do momento desvanece com o tempo, mas não quis atirar fora esta réstia de sensibilidade inspiradora.
Carlos do Carmo com a Orquestra Metropolitana de Lisboa no Coliseu dos Recreios.
Não sou especialista em Fado, nem sequer posso dizer que o conheço bem. Sei porém que é para ser ouvido em silêncio, como diz o ditado, e sem acompanhamento de palmas. Assim o defendeu orgulhosamente o próprio Carlos do Carmo, direccionando as palmas para a música popular.
Não sei cantar nem tocar um instrumento com um mínimo de mestria, mas acredito que o requisito de concentração delicada para ambas as práticas é com certeza abalado pelas fortes e especturadas tossidelas portuguesas que fazem estremecer o Coliseu a cada dois minutos.
Não posso dizer que aqueles fados me preencheram tanto como preencheram o anfitrião com 42 anos de carreira. Nem sequer como preencheram aos senhores que, na plateia, absorviam aqueles poemas como quem revive mentalmente os anos que deixou para trás.
Não sou mais do que uma mera jovem que teve a oportunidade de assistir àquele concerto, de tentar dar atenção à minúcia de todo um trabalho de orquestra, de não esquecer que cada músico transporta uma parte de si para aquela melodia penetrante.
Sei apenas que me deleitou essa melodia, que apreciei como pude, modesta e leigamente. Sorri por esse deleite; por apreciar tão sem esforço algo que tem no meu país uma raiz tão vincada. Deliciei-me com as entrelinhas cantadas à minha cidade, não como menina e moça mas como fonte inspiradora com tanto a contemplar.
Carlos do Carmo fez-me renovar o ar nos pulmões, lembrou-me do que era sorrir com sentimento, despertou-me a audição para tudo o que nos oferece ensinamentos disfarçadamente. Não cantando "Os putos", relembrou-me que muitos caprichos nesta vida não são para ser satisfeitos.
Que quando morre uma andorinha, não acaba a Primavera...
6 comentários:
Ah, mas chatice, mais um texto que tenho que dizer bem, porque não me deixas muita escolha. Eu ainda vinha com aquela esperança "ah, pode ser que esteja uma trampa de texto, só mesmo para variar um bocadito", mas não, como sempre, está muito catita. Não estive no concerto e, mesmo não estando profundamente descritivo, quase senti que estive, pelo menos o que sentiste quando lá estiveste. Nada como um bocadinho de arte, um bom concerto, uma boa peça de teatro, um bom filme, uma boa exposição para nos dar um animo e um sentimento dificil de explicar mas que é sem dúvida revigorante e insubstituivel!
gostei
beijoca
Eu gosto de fado...digo-o com orgulho do melhor que Portugal tem!
E fico contente por ver k há mais gente k gosta ;) Tana,tens d ir a uma das fadestices lá no monte!! O fado não se explica, ouve-se e sente-se...mas adorei o teu post...sentiste!bj
"Uma mulher é como uma guitarra, não é qualquer que a abraça e faz vibrar...mas quem souber o modo como a agarra, toca-lhe a alma nas mãos que a sabem tocar"
"...por tal razão, se engana facilmente um coração que teima em ser feliz...guitarra triste, que buscas confidente, nas mãos de quem não sente os versos que ela diz!"
Ah gostei tanto!
Não estive no concerto nem tenho estado em muitos nos últimos tempos , mas sei exactamente o que tu sentiste. E é tão bom!
Beijinhos muitos
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Com um texto tão inspirador até dá vontade de pedir ao Carlos do Carmo para fazer outro concerto, de maneira a que todos nós possamos sentir uma réstia daquilo que sentiste nessa noite...beijinhos grandes
"Guitarra toca baixinho, que alguém pode escutar...", e ainda bem que tu não tocaste baixinho e que te pude "escutar" atentamente, para aqui te dizer que me arrepiei...
...Confesso que amo o fado, que o canto sempre de voz embargada e arrepio na espinha, como se tudo o que eu sou estivesse ali... nas notas suadas da guitarra que... toca baixinho!...
...Continua a escrever assim! Ti adoro!
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