Cada dia que vivo, anseio pelo próximo, não pela sede de viver, mas pela vontade de ver já passados os desafios que me surgem. Não obstante sinto a cada dia mais um pouco dessa sede, por a cada dia ouvir e ver vivências que julgam obrigar-me a saborear cada instante respirável. “A vida é curta”, “Carpe Diem”, “Sê optimista” não me convencem, mesmo que não saiba justificá-lo. Pois o que tem vindo a conquistar esta vontade de reagir à minha apatia tem sido algo que não sei definir, creio que por ser contínuo. E isso orgulha-me. Fui ensinando a mim mesma, em quase todas as oportunidades que tive, a forma de vivê-las com menos receios, com mais vontade e descontracção.
Hoje deparo com a inevitabilidade de parte do meu futuro e, simultaneamente, com a terrível responsabilidade de ter uma decisão nas mãos. Neste interior que, tão bem tantos sabem, canta fados cinzentinhos, chocam as células habituadas ao conformismo pessimista com aquelas que, mesmo fortes, não têm força suficiente. E nestes momentos de solidão caseira vence-me a frustração de querer estar lá fora, de casa, da cidade, do país, de mim mesma, e não poder, porque não faço, porque não quero realmente. Querer é poder, esse sim é um cliché no qual muitas vezes acredito. Pela primeira vez sorrio por sentir verdadeiramente que quero um pouco mais, porque tive a modéstia de partir sempre de um ponto em que não seria capaz de nada. Então era como se não quisesse.
E tudo graças ao que me rodeia. Às pessoas, aos amigos, aos inimigos, às imagens, às notícias, à minha imaginação ambiciosa. Tudo graças aos que me aturaram, dando-me a certeza de que, aproximada de alguém parecida comigo, eu saturaria facilmente. Não deve ser fácil conviver com quem está constantemente a dizer que não, quando na maioria dessas vezes poderia dizer que sim. Quem baixa a cabeça quando tem motivos para sorrir.
Não posso negar que tenho as minhas razões para ter inseguranças, pelo menos desde que, há cerca de três anos, saí da protecção colegial para ouvir os comentários gelados sobre os futuros com “n” adjectivos. Tantas razões quantas as que podem designar para me acusar de egoísmo e egocentrismo. E mesmo assim eu não cedo, por a escrita ser ainda o meu poço preferido de fraquezas.
Ora, admito, já estas palavrinhas parecem carregar outro alento para dentro desse meu poço profundo e misterioso. Quem sabe eu não esteja mesmo a ganhar forças?