Enquanto estudo, enquanto procuro uma resposta para este interesse pelo Jornalismo, enquanto folheio e leio as páginas de um jornal, enquanto oiço e oiço dizer. Para aquilo que me interessa e para aquilo que me revolta, sou constantemente desafiada a reagir, manifestando-me. Mas nem quando me antecipo, fazendo-o de livre vontade, venço a frustração.
Em meados de Novembro do ano passado, em carta registada:
Exma. Sr.ª Dr.ª Inês Serra Lopes
É com algum desapontamento e receio que sinto necessidade de escrever directamente a V.ª Ex.a.
Serei frontal, para não fugir à concisão dos meus argumentos e para tentar que V.ª Ex.a tenha disponibilidade para ler a totalidade do que aqui exponho. Refiro-me, portanto, à coluna de Catarina Jardim no suplemento VIDA do jornal que V.ª Ex.a dirige, O Independente.
Foi com discórdia e desalento que tomei conhecimento do facto, confrontada directamente com um dos textos assinados pela conhecida jovem numa das páginas iniciais do referido suplemento. Ocorreu-me, de imediato, o conhecimento geral de que a figura pública em questão terá ingressado no presente ano lectivo para o Ensino Superior, Privado, com a comentada baixa média de acesso ao curso de Comunicação Social.
Não teria motivo nem legitimidade, se é que a tenho neste instante, para fazer conhecer a V.ª Ex.a a presente crítica, caso a já polémica crónica “Livre Trânsito” reflectisse temas de interesse público, críticas a acontecimentos da actualidade ou simples reflexões pertinentes – no fundo, os critérios designados para o conteúdo dos usualmente qualificados de “artigos de opinião”.
Ora, não considero, eu e aqueles com quem confrontei a minha indignação, que me apoiaram com um juízo semelhante, que textos que abordam egocêntrica e presunçosamente a rotina da jovem em questão, servidos de desabafos acerca do cansaço da rotina académica, a referência a amigas que constituem igualmente figuras públicas ou a descrição de um cruzeiro como um evento social sem a mínima perspicácia nas referências desenhadas, entre outros assuntos, satisfaçam os critérios supra-referidos.
Decerto tenho consciência das possíveis motivações que direccionaram V.ª Ex.a a concretizar o fenómeno que aqui apresento, os quais, de resto, constituem domínio público. De igual modo, estou disposta a considerar que, de alguma forma, a “vida de Pimpinha Jardim” possa reunir interesse para uma qualquer percentagem de leitores do suplemento VIDA. Não obstante, mantenho a minha posição, pois não julgo suficientemente justificatórias as razões apontadas para permitir que se considere que Catarina Jardim tenha as habilitações profissionais mínimas para assumir a responsabilidade por um espaço caro num jornal prestigioso como é O Independente.
Apresento, naturalmente, os argumentos que ajustam a presente crítica às minhas motivações pessoais e profissionais.
Sou estudante da Licenciatura de Ciências da Comunicação na Universidade Nova de Lisboa e, frequentando hoje o 3.º ano, considero-me capaz de perspectivar e prospectivar o meio onde pretendo construir carreira e onde V.ª Ex.a se constitui incontornável, dominando-o certamente.
Neste sentido, sinto que tenho uma noção suficientemente clara – e assustadora – de que o jornalismo não sobrevive de profissionais habilitados mas vive sim em permanente parceria com aqueles que passam pelo meio, seja por insistência, acaso ou descendência, e que agarram as oportunidades que se lhes surgem. Sinto até que devo esforçar-me por encontrar também essa oportunidade, provavelmente para lá das minhas habilitações.
No entanto, sou apologista da ideia de que a agenda de contactos não deverá subestimar a capacidade de reflexão exigida pelos diversos ramos desta actividade. É por essa linha que lutei e trabalhei até hoje e entristece-me que factos como este se nos deparem de uma forma fria e bloqueadora, a nós, estudantes com o jornalismo e a vontade de “falar sobre” nas veias, a nós que estudámos horas a fio, abdicando de tantas festas, para conseguir as médias de 16 e 17 exigidas para aprender a dominar as regras dos diversos registos da escrita.
Não pretendo transmitir uma ideia prepotente da minha visão relativamente a este assunto nem tão pouco criar da parte de V.ª Ex.a uma interpretação pejorativa da liberdade de expressão que aqui exerci. Trata-se apenas de um desabafo de alguém que aspira, também, a um lugar num jornal como O Independente e que acredita convictamente no bom-senso e capacidade crítica de V.ª Ex.a na leitura destas linhas.
Com os meus respeitosos cumprimentos,
Débora Miranda
O meu desabafo foi ignorado, o namoro terminou, a "crónica" mantém-se.
3 comentários:
De tudo o que já li neste blog, este foi o que mais gostei de ler. É pena que o teu desabafo não tenha dado em nada, mas infelizmente é assim que funciona nesta sociedade, é tudo mediocre, e o que é bom não é aproveitado como deveria. Confesso que nunca li a tal "crónica" da moçoila, mas acho que consigo imaginar...
Estou contigo, temos que nos revoltar! Estas coisas absurdas acontecem todos os dias, toda a gente sabe, toda a gente critica e ninguem faz nada! Parabéns pela tua iniciativa!
Olá. quero tb parabenizar-te pela iniciativa. Eu sou do teu ano na Nova e concordo plenamente contigo.
Qualquer uma de nós, conseguiria fazer uma coisa melhor...mas nós somos apenas ilustres anónimas...
És a maior! xD
Mas que audácia, que ousadia, sim senhora. A ti ninguém te pára! =) ****
Enviar um comentário