Cada nota tocada na bateria, no piano, na guitarra ou na flauta do Musicentro, senti-a na sua individualidade, absorvendo a melodia que tanto ali me diz.
Os papelinhos de orientação da Eucaristia foram substituídos pelo retroprojector, num acto disfarçado de uma poupança de papel traduzida em tecnologia de luxo.
A entrada é de vidro, com portas automáticas. Ao lado, a homenagem ao Pe. José Alberto Mendes recorda os valores daquela Casa. Os momentos fortes. No corredor para o pátio do primeiro ciclo e outros, as luzes acendem também sozinhas. O campo de terra é agora de um verde sintético, cheira a novo. Nele e no novo pátio, de um soalho-atenuante-de-quedas, sente-se a corrida do tempo, lembram-nos que não estamos lá. Os miúdos, ou meninos, correm atrás de uma bola, esfolam as calças Ralph Lauren e sujam as camisolas da Gap.
Naquele antigo terraço nasceu agora uma biblioteca, toda em vidro. Finalmente um espaço maior, com mais mesas, mais livros, mais interesse. E ainda assim insistimos, alguns, na crítica ao uso ostensivo dos milhares de euros que todos ali deixámos.
O Colégio está sobrelotado, é uma elite. Os Finalistas, já não tão vestidos a rigor, não têm também já lugar junto ao altar. No pórtico do Secundário parece que ainda chove através do pseudo-tecto roto.
Mas a melodia da Missa de S. José abafa todas essas imagens, brilhantes e luxuosas, das quais falamos como se nos envergonhasse. Não percebo porquê. A oração que invoca todos os alunos das Oficinas de S. José orgulha-me. O "Onde Tu Estás" a decalcar uma voz insubstituíel arrepia-me. Os temas que não conhecia lembram-me igualmente que já lá não estou.
É nesta oportunidade de regressar à minha Antiga Casa que, na qualidade de "Antiga Aluna", renovo o ar que me adensa a alma. Deixa de interessar se saio de uma instituição que mal tem dinheiro para pagar a electricidade, para ir para uma casa católica onde tudo se paga a muitos zeros por mês. Vou sim de uma instituição académica repleta de hierarquias arrogantes para uma casa em que a pedagogia também pode tratar-me pelo nome. Convidam-nos para ir, para visitar, para estar, para perguntar, para aconselhar.
Chamem-me lamechas, mas os Salesianos acolhem-me. Qual colheita de frutos.
16 março, 2006
Lá no Colégio
Subscrever:
Enviar feedback (Atom)
11 comentários:
Chorei por dentro hoje...na missa...lembrei-me do Pe. José Alberto...lembrei-me de uma vez k cantei a solo numa festa de Natal...lembrei-me de jogar aos tazos no pórtico do 2ºciclo...lembrei-me dos jogos de futebol, dos treinos...lembrei-me da viagem de finalistas, do Portuguese Pie...e lembrei-me que ainda sou o mesmo, ainda sou akele puto irritante...e por isso, ali, ainda é e tem de ser a minha casa!
nenhum comentário (pelo menos meu) neste blog é imparcial mas lendo este lindo texto percebo que este seria sempre muito menos, e sabem que mais? tanto melhor, porque ser imparcial é a coisa mais enfadonha do mundo. Dito isto, acho que ninguem sai indiferente daquela escola e isso vemos bem no nosso grupo que a cada oportunidade retorna aquela casa, quais filhos pródigos, em busca de alguma coisa que deixamos lá em tempos (e que a meu ver, pode muito bem estar nos perdidos e achados). Ah, a mistura do sagrado com o profano, o sentimento sincero e a graçola idiota... enfim, disperso-me. gostei mesmo do dia, de la ir e de ler este texto. i know how you feel. (e sobre o sic noticias, again, nao te perturbes, you're gonna make it)
bj
Ai ai..quis tanto comentar, mas agora que posso vou deixar para outra altura. Fiz como o Chico e apenas chorei por dentro, mas não deu para aguentar mais...Depois comento melhor
Eu também sou lamechas, porque tenho saudades daquela casa,dos melhores anos da minha vida, das aulas,das músicas,de tudo. Com os seus defeitos, mas com aquela magia que nunca esquecerei.
Mas é bom, é bom saber que os anos que lá vivi deram frutos e esses são vocês, tu e aqueles amigos que ficarão para sempre.
Beijões**
Senti vontade de chorar por saber o quão grande é este espírito para ti e por momentos imaginei o meu percurso tendo valores tão firmes como aqueles que senti ontem na "tua" antiga escola que sentes como segunda casa. Gostei muito miúda...Obrigada por me teres proporcionado uma manhã tão rica. Se houver oportunidade também eu te convidarei a experienciar os valores com que cresci, diferentes mas tão firmes e sentidos como os teus.
Um beijo grande*
somos nós,somos antigos alunos salesianos..
beijinhos a todos
Meus amigos os Salesianos que conhecemos não são mais os Salesianos de hoje! Felizmente ainda há a esperança que voltem ao tempo em que havia alunos no pátio à tarde quando acabavam as aulas... em que nos conheciamos todos, em que sabiamos o nome uns dos outros! O director sabia o nosso nome. Foram lá na festa! Foi bonito! Mas nem o sentimento dos finalistas de hoje se parece a dos nossos tempos! Os Salesianos (padres) fazem a congregação! E tu Chico lembras-te de como conviveste com alguns deles! Os tempos mudaram!
A casa que conheci, os valores que me ensinaram não diria que mudaram mas estão enovoados!
Somos uma das 4 casa de Salesianos em Portugal que não tem Associação de Antigos Alunos!
Superiormente é possível que as coisas mudem!
Vou escrever mais coisas brevemente se me permitirem por isso prefiro não me identificar!
anónimo (conhecido, pelos vistos), infelizmente o que disseste é verdade...houve um momento em que tudo mudou, quando o Padre J.Alberto morreu, e nesse momento o colégio progredia na continuidade e as coisas talvez resultassem ou mudavam as ideias e os objectivos e tudo, mais tarde ou mais cedo, se perderia...tivemos azar, tudo mudou.
tivémos sorte, em sair de lá pouco tempo depois.
o dinheiro tem estranhos efeitos tanto nas pessoas, como num instituiçao, pelos vistos...
cumprimentos salesianos (os de antigamente)
Chico! Os Salesianos, agora, já nem se falam, os contradizem os outros, o que comunicam é somente por "motivos profissionais"! Pensava há algum tempo que ser padre não deveria ser encarado como uma profissão! Para j+a não falar dos bilhetes que deixam uns aos outros porque custa-lhes falarem! Dentro dos Salesianos os professores têm duas maneiras de actuar: uns juntam-se a quem manda e sobem na vida, outros correm atrás daquilo que aprenderam sobre os salesianos e são afastados! Faz-me lembrar um cenário político onde vale tudo para ter poder! Felizmente as noitícias que correm dentro das casa falam de mudanças mas confirmações ainda não há! Cumprimentos saudosos (os tais de antigamente) que até j+a deixaram de lutar, ou talvez ainda tentem mas sem a mesma vimência!
Cara ex colega "Deb, a Diletante"
Honra merece a sua pessoa pelas palavras que de humilde diletância estão cheias pelo modo audaz e até estrondoso como descreve aquele sentimento que a muitos apraz, de recordação e saudosismo que tantas vezes de sarcasmo se confunde por alusões a pensamentos de concupiscentes que a sociedade está impregnada.
Será um lugar comum afirmar que a tradição já não é o que era, mas convenhamos que os desafios de um mundo global nos remeteram para um paradigma de desvalorização do sentimento e do lirismo a que apelamos com apego. Na verdade a forma harmoniosa de imbuir as palavras num discurso sentimental caiu até hoje em desuso e é nesse sentido que homenagem seja feita há fluência das palavras utilizadas para descrever um saudosismo profundo, alegra-me e conforta-me, ainda que; tenhamos crescido, consigamos hoje observar de forma diferente e com maior distanciamento, talvez até com profundas diferenças ideológicas e religiosas, mas sabemos reconhecer o mérito. Portanto, é necessário frisar, não parece existir hoje, o mesmo sentimento de reconhecimento associado à posição de finalista, mas teremos de concluir que essa despretensiosa relação é hoje mútua, e que; temos de entender tal facto com orgulho e sem falsas modéstias; representámos o culminar de uma geração em que as palavras "a nossa segunda casa" significavam muito mais do que a vertente académica que hoje lhe atribuem, sem qualquer valor altruísta, ou sagrado. Nós aprendemos a viver e reconhecer valor, hoje aprende-se português inglês e as demais. Os tempos que nos distanciam daquela instituição já vão longos, mas felicito pelo entendimento e transmissão de um sentimento que, de acordo com o meu sentido de pertença, é nosso, e não individual. Parabéns.
Enviar um comentário