Tal como numa praia, ao início da manhã. Não vejo ninguém, só o barquinho com que dei à terra. Vim sozinha, tal como tinha ido.
Sento-me, agarrada aos tornozelos, queixo sobre os joelhos. Não consigo deixar de olhar em frente, bem lá para o fundo do horizonte. Por mais perfeita que esteja a linha não consigo ver para lá dela. Queria tanto poder viver tudo aquilo outra vez.
Do que lá vivi só consigo agora ouvir o som das ondas, que me lembram alguns ruídos. E sinto o cheiro da maresia, aquele que se desmembra em dezenas de outros odores, tão presos à memória.
O sorriso que esboço é daqueles pouco curvados. Lembro-me de sorrir rasgadamente, todos me podiam ver os dentes, felizes, todos os dias sem excepção. Agora só sei lançar aquele sorriso quando, em contacto com os olhos, fixos no incerto, pareço ver as imagens nítidas da conquista que deixei para trás. (Ou para a frente.)
Do outro lado ficou um mundo pequenino que eu construí sozinha, só para mim. Deste lado está o meu mundo de sempre. É irónico ter de habituar-me a ele. Mas tem sido um processo reflectidamente natural. Não custa aceitar que tenho de estar nesta praia de novo. Porque gosto muito dela. Custa é pensar que o que quero ver no horizonte se desmoronou e dispersou assim que eu parti. Um ano dos meus vinte e dois, por aí algures, sem dono. Como se já não tivesse provas de que existiu.
Restam-me os caminhos que o barquinho me foi mostrando ao longo da viagem. E resta-me, sem dúvida, o verde que se estende para trás de mim, pacientemente à espera que eu lhe dê o que ele me dá a mim.
Sou alguém dividida em mim mesma. E dividida entre o mar que defronte vejo e toda a terra que me espera.
Mas há vida em todas as direcções, agora eu sei disso.
Está vento. O mesmo que faz as coisas irem e voltarem. A areia levanta-se impulsiva, às vezes até com vergonha, numas zonas com mais força, noutras com menos.
Deixem-na assentar, por favor. Tudo é bom quando acaba bem e eu quero levantar-me quando sentir que nada mais paira no ar. Hei-de levantar-me de vez e explorar todo o verde fértil que se estende atrás de mim. Hei-de colher lá os meus frutos.
Mas por enquanto, deixem-me alimentar este orgulho que tão dedicadamente conquistei. Deixem-me alimentar a vontade de regressar a esta praia. Tenho de me ir certificando que o barquinho não partiu sem mim.
Sento-me, agarrada aos tornozelos, queixo sobre os joelhos. Não consigo deixar de olhar em frente, bem lá para o fundo do horizonte. Por mais perfeita que esteja a linha não consigo ver para lá dela. Queria tanto poder viver tudo aquilo outra vez.
Do que lá vivi só consigo agora ouvir o som das ondas, que me lembram alguns ruídos. E sinto o cheiro da maresia, aquele que se desmembra em dezenas de outros odores, tão presos à memória.
O sorriso que esboço é daqueles pouco curvados. Lembro-me de sorrir rasgadamente, todos me podiam ver os dentes, felizes, todos os dias sem excepção. Agora só sei lançar aquele sorriso quando, em contacto com os olhos, fixos no incerto, pareço ver as imagens nítidas da conquista que deixei para trás. (Ou para a frente.)
Do outro lado ficou um mundo pequenino que eu construí sozinha, só para mim. Deste lado está o meu mundo de sempre. É irónico ter de habituar-me a ele. Mas tem sido um processo reflectidamente natural. Não custa aceitar que tenho de estar nesta praia de novo. Porque gosto muito dela. Custa é pensar que o que quero ver no horizonte se desmoronou e dispersou assim que eu parti. Um ano dos meus vinte e dois, por aí algures, sem dono. Como se já não tivesse provas de que existiu.
Restam-me os caminhos que o barquinho me foi mostrando ao longo da viagem. E resta-me, sem dúvida, o verde que se estende para trás de mim, pacientemente à espera que eu lhe dê o que ele me dá a mim.
Sou alguém dividida em mim mesma. E dividida entre o mar que defronte vejo e toda a terra que me espera.
Mas há vida em todas as direcções, agora eu sei disso.
Está vento. O mesmo que faz as coisas irem e voltarem. A areia levanta-se impulsiva, às vezes até com vergonha, numas zonas com mais força, noutras com menos.
Deixem-na assentar, por favor. Tudo é bom quando acaba bem e eu quero levantar-me quando sentir que nada mais paira no ar. Hei-de levantar-me de vez e explorar todo o verde fértil que se estende atrás de mim. Hei-de colher lá os meus frutos.
Mas por enquanto, deixem-me alimentar este orgulho que tão dedicadamente conquistei. Deixem-me alimentar a vontade de regressar a esta praia. Tenho de me ir certificando que o barquinho não partiu sem mim.
5 comentários:
Muito bonito e muito honesto o texto. Metáfora e Imagem muito bem construídas e que nos permitem descobrir mais um pouquinho de ti. Não ligues a quem te diz para esquecer as outras praias porque elas agora fazem parte de quem tu és e ninguém no seu perfeito juizo quererá mudar isso.
De certeza que não!
Neste momento não consigo mais do que negar essa partida sem ti! Virá mais...mais analisado, num momento posterior!
Não vou, no entanto, se antes dizer...ADOREI!
beijo grande miúda!
belissima praia...
tona
Este é o comentário mais estúpido de sempre: é que barquinhos fez-me lembrar aqueles bolos da nazaré, barquinhos recheados de doce de ovos...ai q bom. desculpa, sei que não é um comentário apropriado!
Tens a capacidade de me pôr a chorar no meio da redacção..espero que tenhas bem noção disto...sinto-te longe, mas não deixo de te sentir...e as saudades aumentam...
Em terra, ou no mar...hás-de encontrar o teu porto-seguro.
Até lá, estamos aqui nós...*
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