Nenhum cheiro forte permitirá o esquecimento de tudo isto.
O cheiro da residência, que só na residência pude (poderei?) sentir.
O cheiro de uma casa é sempre único e insubstituível.
O cheiro do creme hidratante Eldena, do supermercado Aldi, pertence aos primeiros dias, à presença da Clara, ao fim quente do Verão, início de qualquer coisa na Alemanha.
O cheiro do gel de banho de aveia pertence àquela casa-de-banho pequenina, que me tentava acordar nas manhãs escuras, de temperaturas negativas, com aulas à espera.
O cheiro da cave onde lavava a minha roupa.
O cheiro do Instituto na Emil-Fuchsstrasse, inconfundível, das escadas para as salas de seminário, onde cheguei muitas manhãs sempre gelada e com sono. O cheiro do medo da deslocação no meio dos alemães.
O cheiro estranho de gases a emergir do chão em certas ruas da cidade lembra que piso Leipzig, que (ainda) estou aqui. Um dos poucos cheiros que se manteve durante o frio do Inverno, que tudo bloqueava entre o nariz e o cachecol...
O cheio do Weihnachtsmarkt, o lindo mercado de Natal, matou saudades nas pequenas feiras da Páscoa e da Cidade.
O cheiro das Thüringer Bratwurst, salsichas no pão, bolos de Natal, Glühwein, o cheiro dos fuminhos a aquecer o Dezembro frio lembram a Mãe, o Pai e a irmã a viver parte da minha experiência, ali, aqui comigo.
O cheiro do Bolo-Rei, do bacalhau, do grão, do azeite, dos pastéis de Belém, o cheiro do Natal na Alemanha 2006.
O cheiro do creme de cara Balea lembra Spyndleruv Mlyn, parêntesis no Erasmus em companhia portuguesa.
O cheiro seco do ar condicionado do avião, para Lisboa em Fevereiro, lembra o momento mais pessoal, provavelmente o mais feliz deste Erasmus.
O cheiro do novo quarto da Júlio Dinis, a lembrar o regresso, a saudade, a pausa, o balanço.
O cheiro da nova casa, da Frommannstrasse. O cheiro da casa da Franziska que visitara tempos antes. O cheiro de uma casa a revelar-se novamente único.
O cheiro do gel de duche, agora de mel, para variar. Quando acabou, comprei de novo o de aveia, para pensar que ainda estou no primeiro semestre, longe do fim.
O cheiro da lembrança de um Inverno que foi tão bom.
O cheiro dos Döner no caminho para casa, especialmente forte na Tarostrasse.
O cheiro do meu quarto cor-de-laranja.
O cheiro da Nutella, das boas manhãs, da vontade de acordar com o sol a bater na cara.
O cheiro dos bolos, das bolas de Berlim, dos pãezinhos de sementes, do Milchkaffee em tigelas quase de sopa.
O cheiro do Lukas-Café, que me trazem saudades da Mafalda e dos costumes lisboetas.
O cheiro do refogado, que faço tantas vezes quantas são possíveis, para apurar a Saudade da Mamma na cozinha da Júlio Dinis.
O cheiro do chá de laranja da Franziska, o cheiro da cerveja, do chocolate quente, o cheiro a limão das águas com gás, o cheiro das Kräuter por todo o lado.
O cheiro do Rewe, do Kaufland, do Plus, do Aldi, do Lidl, de todos os supermercados, com o cheiro dos enchidos a substituir o cheiro do peixe.
O cheiro da Cafeteria da Faculdade nas referidas quintas-feiras, a Cafeteria que já não existe.
O cheiro do sabonete da casa-de-banho do 4 Rooms, onde tiveram lugar as primeiras noites de convívio, de novidade, de autêntica histeria.
O cheiro dos queijos franceses, do arroz asiático, das tortillas, dos presuntos, da carne assada, das saladas de batata nos jantares de grupo internacionais.
O cheiro da biblioteca, o autêntico cheiro do Inverno. O cheiro a horários, o cheiro dos momentos a sós, dos momentos de observação, de reflexão, de trabalho, de orgulho e esforço.
O cheiro da casa da Caroline, da Carla, da Julia, dos 4 portugueses, do Wychman, do Padhraig, da Laura.
O cheiro da água do lago.
O cheiro dos parques.
O cheiro da neve.
Dez meses na Alemanha.
05 julho, 2007
Cheiros
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4 comentários:
Escapa-se-me uma lágrima ao canto do olho. Como te disse... Um texto a imprimir e a colar na porta do meu armário. Sempre que o abrir lembrar-me-ei dos belos aromas dessa nossa aventura e assim crescerá a vontade, já enorme, de voltar à terra que me fez tão feliz e ainda te continua a fazer. Aproveita como se cada minuto fosse o último para que este teu mês se transforme numa década!!! Beijões da tuga@tugolândia
gostas da vida, sobrinha.
tenho pena de não trocarmos mais ideias. às vezes a "familia" perde-se por caminhos que não entendo nem desjo. acho que fui demasiadas vezes mal interpretada. muitas vezes sinto-me a parva de serviço..e depois, qd fiquei doente e houve muitos silencios...custou-me....tenho pena de não dividir mais coisas contigo. tão bonita que és.
beijo
vejo sempre teu blog e fotoblog..os avós tb...
sónia
ai miuda, realmente os cheiros são os que mais tempo ficam na nossa memória e nos fazem recordar momentos e lugares de forma muito realista. é incrivel. n te preocupes que tb estes vais recordar pa sempre. bj grande
o cheiro do teu regresso..hmm..uma delícia ;)
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