01 junho, 2007

LUZ de Lisboa



Coisas para fazer são inúmeras. Mas escrever justifica sempre...

"Levo a espada e a armadura de ferro (...), levo-te a ti".

Levei-me a mim mesma para as minhas raízes. Não foi hora de questionar. À medida que o tempo passava a certeza era cada vez maior. Tinha sido a decisão certa. Queria tanto estar em casa e não podia, até àquele dia.

Chega de espernear, gritar, dar gargalhadas e ligar banalmente para casa. Uma experiência destas não seria a mesma sem um momento-de-fundo-de-poço, mesmo que nem sempre haja uma causa especial. E aí sim. Sentimos o quarto vaziozinho, a cama fria, a almofada e o edredão insuficientes para aquecer cá dentro. Por outro lado, a amizade demonstrada em alemão e inglês comprovou o seu valor.

Nada substitui as rotinas desta cidade pacata. A certeza é já mais que garantida das saudades que dela vou sentir. Há porém momentos em que é preciso parar e lembrar melhor de onde viemos e de quem lá está a aceitar o nosso egoísmo. Há um dia em que olhamos de forma diferente para "Casa".

Muita coisa ficou para trás nestes tempos. Houve conformismos e medos, mudanças, descobertas e desafios. Histórias para contar em noites de convívio. Talvez rir, mesmo do que na altura fez chorar. Pois a Vida é assim. Cada momento para cada sensação. Gefühle, Gefühle... wahrscheinlich das beste "Erasmuswort".

Vim a Casa, à minha querida Lisboa. A vista do avião teve um sabor diferente de Fevereiro. Mais atenuado, mais assustado. Estou quase a voltar de vez. E agora que fui de visita, até já regressei, como o tempo voa!, volta esta sensação de incerteza quanto ao espaço a que pertenço. Até lá vou-me refugiando neste parêntesis que a cada dia melhor descubro ter sido uma necessidade para esta alma de tantas incertezas. E um dia aterrarei no chamado mundo dos abutres e tudo isto serão só memórias.

Mas estarei em Casa, entre muitas coisas ao lado das minhas fitas de finalista, a lembrar que tudo foi sugado quanto baste.

Ter essa consciência só foi possível com o conforto da cama de sempre, numa casa cheia do meu sangue e de rotinas que há tantos anos fazem parte de mim. O incentivo a mudar é porém insistente, vindo das vozes de quem sempre me quis dentro da rotina. Tem razão de ser, que há que ir em frente e, mais do que em frente, ir além.

Só por aquele sol, mesmo que anormalmente escondido, só pelo som das ondas do mar, só pela mesa posta para a Família, só por arranjar o peixe e conversar como só nós conversamos, só pelas surpresas e pelas demonstrações de carinho, só pelas Pessoas à minha volta, só por vídeos e visitas, "só" por "tudo" valeu mais do que a pena ter decidido vir. Ou ir, que agora já aqui estou, depois de mais um pequeno grande salto. Toca a aproveitar a bicicleta e a varanda, as conversas noutras línguas, que num ápice tudo se esvai.

Nova etapa?

Obrigada, Mãe.

4 comentários:

Anónimo disse...

Vinha à procura dum novo texto teu (e ia reclamar porque não havia) porque estava a precisar de te ler, de te sentir...
Cheguei, li e, como também há dias cinzentos, as lágrimas cairam...não de tristeza, mas de sentir este coraçãozinho apertado por tudo aquilo que me fizeste recordar...
Obrigada por seres como és e por me dares tanto de ti!

"Um dia a maioria de nós irá separar-se.
Sentiremos saudades de todas as conversas jogadas fora, das
descobertas que fizemos, dos sonhos que tivemos, dos tantos risos e
momentos que partilhamos.
Saudades até dos momentos de lágrimas, da angústia, das vésperas dos
finais de semana, dos finais de ano, enfim... do companheirismo vivido.
Sempre pensei que as amizades continuassem para sempre.
Hoje não tenho mais tanta certeza disso.
Em breve cada um vai para seu lado, seja pelo destino ou por algum
desentendimento, segue a sua vida.
Talvez continuemos a nos encontrar, quem sabe...nas cartas que trocaremos.
Podemos falar ao telefone e dizer algumas tolices...
Aí, os dias vão passar, meses...anos... até este contacto se tornar
cada vez mais raro.
Vamo-nos perder no tempo....
Um dia os nossos filhos verão as nossas fotografias e perguntarão:
"Quem são aquelas pessoas?"
Diremos...que eram nossos amigos e...... isso vai doer tanto!
"Foram meus amigos, foi com eles que vivi tantos bons anos da minha vida!"
A saudade vai apertar bem dentro do peito.
Vai dar vontade de ligar, ouvir aquelas vozes novamente......
Quando o nosso grupo estiver incompleto... reunir-nos-emos para um último
adeus de um amigo.
E, entre lágrima abraçar-nos-emos.
Então faremos promessas de nos encontrar mais vezes daquele dia em diante.
Por fim, cada um vai para o seu lado para continuar a viver a sua vida,
isolada do passado.
E perder-nos-emos no tempo.....
Por isso, fica aqui um pedido deste humilde amigo: não deixes que a vida
passe em branco, e que pequenas adversidades sejam a causa de grandes
tempestades....
Eu poderia suportar, embora não sem dor, que tivessem morrido todos os
meus amores, mas enlouqueceria se morressem todos os meus amigos!"

- Fernando Pessoa

Chicotadas disse...

Bonito texto, bonitos sentimentos dentro de ti.
Gostei de te ver, mesmo que por poucos minutos. A fita foi abençoada...por mim,ta? mas com bastante convicção, lol =)
Beijos do caranguejo careca =P

(P.S: achas que posso pedir ao teu pai ajuda no estudo de Direitos Africanos?)

Anónimo disse...

Gostei tanto de te ver e de te abraçasr! Espero que tenhas sentido que estamos aqui para o que precisares..agora e sempre!

beijo enorme miúda! és a maior!

ARN disse...

:/ (nada -a conseguir- declarar)